A USA for Africa era uma organização sem fins lucrativos criada para encaminhar recursos aos povos famintos no continente africano, especialmente na Etiópia, onde a fome vitimava cerca de um milhão de pessoas por ano. Em janeiro de 1985, o mundo tomou conhecimento do movimento que, por ideia do cantor Harry Belafonte, gravou uma canção de Michael Jackson e Lionel Ritchie: We are the world.
Bem, todo mundo sabe o sucesso que foi a gravação, o vídeo, as entrevistas e toda a mobilização. Isso tudo num planeta sem internet e mídias sociais. O compacto vendeu mais de 7,5 milhões de cópias só nos Estados Unidos e, seguido por um álbum, videoclipe e merchandising, o movimento levantou cerca de 50 milhões de dólares, que hoje equivaleriam a 120 milhões de dólares. Cara! É quase um Petrolão.
Em 2010, na comemoração dos 25 anos do evento, foi lançado um DVD especial, que continha um documentário onde Harry Belafonte seguiu a entrega do dinheiro na África.
No final do documentário, ele conclui que a maior parte do dinheiro ficou pelo caminho, pagando estrutura da ONG, logística, propinas, corrupção, chefes políticos. Não havia estrutura logística para fazer com que os mantimentos chegassem, comboios eram desviados por políticos ou saqueados por guerrilheiros… Os esforços tão valiosos dos artistas e de todos que compraram o disco, pouco ou nada adiantaram.
A história do USA for África me colocou em modo de alerta para essas grandes movimentações de solidariedade, que exigem estruturas caras, se perdem em camadas e processos e têm uma eficiência discutível. Talvez o dinheiro seja melhor aplicado, se for diretamente de mim para a pessoa que está ajudando outra pessoa ali na esquina da minha casa. No meu bairro. Na minha cidade. De mim para quem necessita, com o menor número de intermediários.
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