Num podcast Café Brasil de muito tempo atrás usei um texto de Guto (vulgo Carlos Magalhães), que falava de Burrice. Vale lembrar uns trechos: “... o que é a burrice? O Aurélio apenas cruza sinônimos. Não esclarece nada.
Em primeiro lugar, a burrice não pode ser confundida com falta de informações. Isso é ignorância. Há pessoas ignorantes muito inteligentes. E há pessoas muito informadas e muito burras. Em segundo lugar, a burrice também não pode ser confundida com doença mental. Terceiro, burrice não é sinônimo de desrazão. E razão não é sinônimo de inteligência. Na minha opinião, a burrice é uma questão de escolha. Penso que todos os humanos nascem com o mesmo equipamento cerebral. O uso ou o não-uso daquilo que a evolução nos deu é opcional. Muitas pessoas optam por não usar. Esses são os verdadeiros burros.
Pensamentos complexos só podem prosperar quando a "memória de trabalho" está amplamente disponível. Quando essa memória é muito pequena, o indivíduo não é capaz de trabalhar com mais de duas variáveis, com sinais sempre opostos (se A é verdade, logo B é falso). É próprio do pensamento monofásico a desconexão entre os diferentes blocos de ideias. Por isso os burros caem sempre em contradição, embora nunca percebam esse detalhe. Ou pior, acreditam-se muito coerentes.
Os burros gostam muito de frases peremptórias. Em geral são muito sérios. E quanto mais sérios, mais burros. Mas a principal característica de todos os burros é a crença inabalável. São crentes. Acreditam em uma realidade externa, objetiva e estável que pode ser fielmente representada pelas palavras. Acreditam que as palavras são etiquetas que se colam a coisas reais. Desconfiam de todos que não usam as etiquetas que consideram corretas. Se a burrice é opcional, a crendeirice não o é. É efeito colateral da escolha. E esse efeito, depois de acometer aquele que optou pela parvoíce, não o abandona mais.
Enfim, burrice não tem cura.
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