Houve um tempo em que era no seio da família que aprendíamos por que acontecia o que acontecia. As narrativas familiares permitiam que entendêssemos como e onde nos encaixávamos dentro do mundo. E eram narrativas ricas, que misturavam fatos da realidade com histórias, tradições e lendas, não só do Brasil, como de nossos antepassados.
Mas se o meu avô, meu tio, minha mãe, ao contar uma história, queriam desenvolver meu senso moral, ajudando que eu encontrasse meu lugar no mundo, quem conta as histórias hoje quer que eu compre uma sandália, um shampoo, um automóvel… ou uma ideia.
Hoje as crianças encontram seu lugar baseadas nas marcas dos produtos que utilizam, no vocabulário da tribo que frequentam, no comportamento que imita celebridades vazias de conteúdo, invariavelmente ligadas à troca de algum produto por nosso dinheiro. Uma criança com oito anos de idade, tendo na bagagem umas 15 mil horas de internet, precisa de som, movimento, cores e situações extremas. Rápido! O que, convenhamos, atrai mais do que a conversa do avô.
E assim ela cresce exposta ao excesso, aos gritos dos que a tentam convencer de que problemas complexos têm soluções simplórias. E essa gente tem um discurso sempre muito sedutor, simples, fácil de entender: a promessa do céu no futuro, desde que você viva o inferno no presente. Um céu que jamais chega.
Então a criança vê a imagem de milhares de pessoas espremidas dentro de um ônibus ou vagão do Metrô, enquanto o governador grita: Fique em casa!
Imagino a criança perguntando aos pais por que é que isso acontece.
Tenho medo da resposta.
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Versão do Youtube: https://youtu.be/oizsUVdGIRg
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