E 2020 termina com a sociedade mobilizada politicamente, como nunca. E isso não deveria ser ruim.
A política é onipresente, você pode se expressar politicamente fazendo parte de um partido ou simplesmente saindo à rua numa manifestação. Pode se envolver com questões de estado, com atividades sociais, com resolução de conflitos, com a política no ambiente de trabalho. E, é claro, votando. Ou manifestando sua opinião livremente.
Política não é algo ruim, sorrateiro, do mal. Política é a cola que mantém a sociedade unida. Política é remédio.
Uma sociedade interessada em política, portanto, deveria ser algo importante, sinal de maturidade social.
Mas...
Depois de 50 anos de incitação ao confronto político e ideológico, do nós que somos do bem, contra eles, que são do mal, surgiu o palco ideal para o conflito: as redes sociais, que despertam nossos mais primitivos instintos, como disse aquele. Nelas, feridas jamais se fecham. Pelo contrário, abrem novas.
Escolhendo quem seguir e quem excluir, nos colocamos em silos, câmaras de eco, enviesados e lutando para eliminar os inimigos. Alguns reais, a maioria imaginários.
Julgamos que somos imunes às pressões, ofensas e preconceitos aos quais somos expostos. Achamos que somos capazes de observar e criticar os rebanhos, sem fazer parte deles. Esquecemos que quem nada contra a maré, também está dentro da água. O diabo está nos outros...
Essa política do confronto, do ódio, contamina todos os segmentos de nossa vida. Agora até tratamento médico tem lado!
É nesse contexto que a política, de cola que une a sociedade, se transforma no veneno que a fragmenta e destrói.
Voltamos a conviver como tribos que se sentem ameaçadas por opiniões contrárias, consideradas heresias que precisam ser eliminadas. A mentira é colocada no mesmo patamar da verdade. Vencer o debate é mais importante que estar certo.
E tudo fica chato, muito chato.
Como promover a construção em vez da destruição, quando um lado quer é destruir o outro? Como expor ideias num ambiente envenenado dessa forma?
Política deveria ser o remédio. Mas nós a transformamos em veneno. Tá na hora de rever a dose.
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