Sept. 9, 2019

Cafezinho 210 – Gosto médio

Cafezinho 210 – Gosto médio

Separei os primeiros CDs de Djavan, Fagner e Simone e, ao ouvi-los, fiquei entusiasmado com a proposta, a “rusticidade” das músicas e interpretações. Havia naqueles CDs uma originalidade, uma experimentação, um tipo de conteúdo que se perdera nos trabalhos seguintes. A cada CD lançado por esses artistas, senti uma perda. Até se transformarem em grandes estrelas da MPB, insossas, com uma pálida lembrança do que foram um dia. Cada um desses artistas, ao surgir, tinha um trabalho próprio, uma identidade, um talento que o projetou, despertando o interesse dos fãs e das gravadoras. Com a chegada do sucesso, vieram os produtores. Os marqueteiros. As ideias das gravadoras para mais sucesso.  “Não fale isso, fale aquilo...”. “Vista-se assim e assado...”...“Não grave isso, grave aquilo...”.

E assim foi, aos poucos, descaracterizada a proposta inicial de cada artista. Em nome de um “gosto médio” que catapultaria as vendas dos CDs. De dezenas de milhares passaram a vender centenas de milhares – até milhões – de CDs. Viraram estrelas. Cantando um nhém-nhém-nhém, mas estrelas...

Li recentemente uma biografia de Charles Chaplin e o que mais me chamou a atenção foi que ele escrevia, dirigia, produzia, musicava e interpretava seus filmes. Daí o resultado genial. Era 100% do talento do artista. Sem concessões. Não havia um comitê nivelando por baixo, buscando o “gosto médio”.

Essa ditadura do comitê está acabando com a expressão artística, política, social da humanidade. Ela exige concessões. E mais concessões. E concedendo, deixamos de ser nós mesmos... Passamos a ser os outros.  E aí fica fácil, muito fácil, perder a identidade. O valor.

No entanto, é impossível viver em sociedade sem concessões. Não dá. Quem faz assim – na verdade tenta - são os terroristas, os ermitões. Vida em sociedade implica no exercício diário da política, da negociação, da concessão. Mas tenho minhas dúvidas... Não pode haver democracia na manifestação artística. “Gosto médio” não existe.

Portanto, avalie, reflita, valorize suas concessões, pois cada uma delas vai levar embora um pouquinho de você. Cada uma delas vai violentar um pouquinho a sua proposta inicial. Cada uma delas vai tentar te empurrar para o “gosto médio”. E lembre-se sempre:

- “Gosto médio” não tem gosto.

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